Atualmente, enfrentamos múltiplas crises cuja complexidade ultrapassa qualquer análise parcial. Sem dúvida, são necessárias muitas perspectivas para compreender os desafios existentes, mas a perspetiva da água é particularmente útil, pois é uma componente essencial de todos os sistemas, em que as dimensões ecológica, social, económica e institucional estão tão interligadas que é difícil analisá-las isoladamente. A partir desta perspetiva integrada, surgem algumas constatações, como a crescente deterioração dos ecossistemas e das paisagens aquáticas e, com ela, a perda de grande parte dos serviços que prestam. Além disso, observa-se a redução generalizada dos recursos hídricos devido às alterações climáticas, as tensões causadas por uma procura cada vez maior, os problemas para garantir a quantidade e a qualidade necessárias do abastecimento, especialmente nas pequenas cidades e nas zonas rurais, mas que afectam cada vez mais as populações mais numerosas durante as secas severas, bem como formas de conceber a gestão da água e decisões que, em muitos casos, continuam a ignorar os sectores sociais e os cidadãos que não são beneficiários diretos, mas que são potencialmente afectados pelas decisões que são tomadas.

Um elemento comum a estas observações é a escassez de água. Se há algumas décadas a resposta quase automática das administrações públicas e de muitos sectores socioeconómicos para superar a escassez eram medidas de abastecimento como reservatórios e transferências de água, hoje muitos já estão conscientes de que, com as alterações climáticas, essas políticas já não fazem sentido. Para nos adaptarmos, temos necessariamente de voltar a nossa atenção para a redução da procura através de uma transição justa da agua que garanta a proteção dos sectores mais vulneráveis e uma distribuição socialmente justa e ambientalmente correta da água. Este é o tema central do XIII Congresso Ibérico de Gestão e Planeamento da Água, que, sob o lema “Da escassez à reafetação social e ambiental da água”, pretende fornecer as chaves conceptuais e operacionais para avançar no caminho de uma transição justa da água, como parte da transição ecossocial de que necessitamos para enfrentar os múltiplos desafios actuais.

O Congresso, que terá lugar em Salamanca de 24 a 26 de abril de 2025, é uma oportunidade única para analisar os obstáculos e avançar com soluções, reunindo todas as perspectivas, desde as ciências biofísicas às ciências sociais e à engenharia, integrando perspectivas académicas e não académicas e abrangendo as múltiplas componentes envolvidas na água, desde as ecossistémicas às sociais, económicas e institucionais.

Para o efeito, o Congresso está organizado em quatro áreas temáticas de carácter interdisciplinar. A área temática 1 “Desafios no ciclo urbano da água face às alterações climáticas” abordará os desafios cada vez mais complexos do ciclo urbano da água, que deve garantir o direito humano à água e ao saneamento, água de qualidade e em quantidade suficiente, mesmo em situação de seca, e responder às exigências de transparência e participação dos cidadãos. As recentes convulsões no sector agrícola, tanto na Europa como em Espanha, a intensa seca que sofremos e os seus impactos no ambiente agrícola e a perceção de que a escassez de água em muitos territórios é agora permanente, revelam a urgência de debater as chaves para uma transição justa da água no ambiente agrícola, as barreiras existentes e as medidas e abordagens que podem ajudar a superá-las. Esta é uma parte das questões a abordar na área temática 2 “Água e agricultura: diálogos sobre a interdependência entre a água e os socioecossistemas agrários”. A área temática 3 “Paisagens aquáticas: um  assunto  tão urgente quanto inadiável” centrar-se-á no estado dos ecossistemas e paisagens aquáticas, incluindo nascentes, rios, aquíferos, zonas húmidas, águas de transição (deltas, estuários) e águas costeiras, juntamente com os diferentes serviços que prestam, analisando problemas mas também discutindo soluções, nas quais a conservação, a recuperação e as soluções baseadas na natureza têm um papel importante a desempenhar. Por último, a área temática 4 “Governança avançada da água em tempos de escassez” analisará em que medida avançámos ou não no sentido de uma maior transparência, da inclusão de uma pluralidade de perspectivas nas decisões sobre a água ou da criação de espaços participativos de qualidade, reflectirá sobre o papel dos grupos sociais nos processos de mudança e apresentará novas formas de promover uma transição hídrica justa da água.

O XIII Congresso Ibérico de Gestão e Planeamento da Água é uma grande oportunidade para o cruzamento de perspectivas e propostas em todas as áreas acima mencionadas. Vemo-nos em Salamanca de 24 a 26 de abril de 2025.

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